sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Sir Paul McCartney - São Paulo - 21 de novembro de 2010



Sei que já faz um bom tempo que o show aconteceu, mas como havia sido prometido, aqui está o relato do melhor show dos últimos tempo: Paul McCartney, no Brasil.

Não tenho medo de dizer que quem estava no Morumbi no dia 21/11 se lembra daquele show como o melhor de sua vida. Da minha, com certeza, foi. Chegar a São Paulo às 9:30am, depois de uma madrugada inteira na estrada, e, após conseguir finalmente pegar meu ingresso e o do meu pai, ir direto para a fila não foi nada perto do sol escaldante que resolveu aparecer no céu naquele dia. Guarda-chuvas viraram nossos protetores, mas nada conseguia afastar o calor insuportável que sentíamos.

Mas essa não era a parte importante. Algumas gotas de suor escorrendo, pernas e bundas doendo de ficarem sentadas esperando, pessoas tentando furar a fila, o frio na barriga ao ouvir que Sir Paul McCartney chegava ao estádio, tudo isso já era esperado.

Às 5:30pm os portões foram abertos. Aí o frio na barriga aumentou, o nervosismo dominava qualquer outro sentimento que tentava aparecer. As pessoas que estavam na minha frente na fila viraram minhas concorrentes e as de trás minhas melhores amigas, tudo para garantir meu bom lugar. Logo na entrada, fomos obrigados a ser revistados e ali a mulher jogou fora meus dois pacotes de balões brancos para a homenagem (e eu escondi minha sombrinha, que ao terminar o show eu encontrei toda quebrada).

Uma pausa para explicar um pouco das homenagens: havia sido combinado pelos internautas que iam ao show que faríamos três homenagens ao nosso querido Macca. Em primeiro lugar, quando as luzes se apagassem para que ele entrasse no palco, cantaríamos em coro "we love you, yeah, yeah, yeah", uma adaptação da música "She Loves You", dos Beatles. Depois, quando ele começasse a cantar a música "A Day In The Life", encheríamos balões brancos para que em "Give Peace A Chance" os levantássemos, em um pedido pela paz. Finalizando, quando Sir Paul estivesse se despedindo de nós, cantaríamos "You say goodbye and I say hello... Hello, hello! I don't know why you say goodbye and I say hello".

Voltando ao Morumbi, entramos e corremos para o nosso lugar, na Arquibancada Azul, tentando descobrir qual seria o melhor ponto para que conseguissemos enxergar bem nosso querido Macca, e acho que fizemos uma boa escolha. O sol continuava sobre nossas cabeças, mas já não nos incomodava, nós estávamos dentro!

Pulando a parte em que velhinhas encheram nosso saco pensando que queríamos roubar seus lugares e a comida HORRÍVEL da lanchonete do estádio, chegamos a duas partes pré-show que não podem deixar de ser comentadas. A primeira foi o mega entusiasmo e confiança de um cara que, sozinho, conseguiu animar nossa arquibancada a começar uma "ola", que aos poucos dominou o estádio e, mais perto do começou do show, se transformou em uma perfeita onda humana. A segunda foi o casal jovem, um garoto e uma garota que nunca haviam se visto, que estava na nossa frente e conseguiu toda a nossa arquibancada torcendo para eles ficarem juntos (também contando com a participação do nosso amigo animador de "olas"). Depois de ter uma multidão gritando para que eles se beijassem, é óbvio que eles seguiram o conselho (a propósito, Pedro e Stephanie, se vocês estiverem lendo isso, nós achamos que vocês deveriam se casar).

Faltando cerca de 25 minutos para o começo do show, um vídeo é iniciado no telão. Fotos, desenhos e boas músicas. O frio na barriga ficando ainda maior. Ninguém queria saber mais de fazer a "ola", ninguém saía do lugar, todo mundo esperava a chegada do Sir. E, sempre pontual, às 9:30pm Paul McCartney entra no palco ao som de "Venus and Mars", sem nos dar a oportunidade de fazer a primeira parte da homenagem.

Não consigo me lembrar de muita coisa além dos meus gritos e do choque de ver ELE na minha frente. Também não vou falar aqui da setlist inteira, mas sim dos momentos que para mim, e acredito que para a maioria, foram mais marcantes. Sem contar, é claro, da graça de vê-lo falando em português frases como: "essa música eu fiz para a minha gatinha Linda" ou "a próxima música é uma homenagem ao meu amigo George".

Não consigo me lembrar exatamente em qual intervalo de músicas isso aconteceu, mas me lembro de conseguir ouvir, pelo microfone do Paul, o pessoal da Pista Prime cantando o que havia sido combinado para o início do show. Empolgada, entrei no meio cantando e só parei depois que ele respondeu "I love you, yeah, yeah, yeah" de volta para nós. Uma parte da homenagem já havia sido cumprida.

A música feita por ele para John Lennon, recebida pelo público com um coro de "John", foi sem dúvida emocionante, mas não conseguiu superar sua homenagem a George Harrison. Eu achei que "Here Today" me faria chorar, mas "Something" quase me desidratou. Ouvir a multidão gritando "I don't know, I don't know", colocando o coração nessa música, enquanto atrás de Paul McCartney eram mostradas fotos de seu amigo foi um dos momentos mais bonitos do show.

Depois de músicas animadas, cantadas para secar as lágrimas do público e fazer o chão da arquibancada tremer sob nossos pés (como em "Ob-La-Di, Ob-La-Da", música que eu acho ser a única pessoa na Terra a não gostar), chegou nossa vez de retribuir. Como meus balões haviam sido barrados, acreditei que quase não haveria balões brancos no estádio, mas ao começar "A Day In The Life", meu queixo caiu. Milhares de pontinhos brancos começaram a surgir no meio do povo e em "Give Peace A Chance" o Morumbi já estava tomado. Enquanto jogavam os balões para o ar e gritavam "all we are saying is give peace a chance", as pessoas também batiam palmas e emocionavam Paul McCartney, que terminou a música com os olhos úmidos e dizendo "wow, you are really something else (uau, vocês são realmente algo a mais)".

E é claro que, como um bom Sir, ele não deixaria nossa homenagem desamparada e também faria a sua. Após cantar "Let It Be", veio um dos momentos mais emocionantes do show: "Live And Let Die". Confesso que havia evitado saber dos shows anteriores para garantir que aquele fosse uma surpresa, mas eu não esperava aquela surpresa. Exatamente no momento em que eu sempre imaginava labaredas na beirada do palco, aquilo aconteceu, mas o que me pegou de surpresa foi o show de pirotecnia atrás do palco enquanto sua banda arrasava no "tananan tananan tanan" (se quiser conferir o que eu to falando, clique aqui). Ao terminar essa música eu fui obrigada a me sentar, minhas pernas estavam moles!

Então veio "Hey, Jude" outra que fez a multidão cantar, principalmente no famoso "na na na nanana" e Sir Paul saiu do palco. Algumas pessoas, que até hoje não sabem que existe o "bis", começaram a ir embora e quem esperou pode curtir mais três músicas fodas. Outra saída, outra volta. Dessa vez ele entrou com "Yesterday", fez o estádio inteiro pular e gritar com "Helter Skelter" e se despediu ao som de "Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band / The End".

Estava tudo muito bem, Paul corria pelo palco como uma criança de 7 anos, e não de quase 70, e eu parecia já prever, quando ele chutou uma bola em cima do palco, que aquilo não daria certo. Quando planejava dar sua última volta, segurando uma bandeira do Brasil, enquanto papéis verde e amarelo picados eram jogados no povo, Paul McCartney tropeçou em uma caixa de som e caiu. Todo mundo pareceu ter a mesma reação de susto, mas aplaudiu e gritou quando ele se levantou e saiu do palco como se nada tivesse acontecido. Uma pena foi o susto ter nos impedido de cumprir com a última parte da homenagem, pelo menos de onde eu estava, não parecia ter ninguém cantando nossa despedida.

O show terminou por volta de 00:15 e o calor ainda dominava São Paulo, que naquele dia não derramou uma gota sequer de chuva. Eu me recusava a sair do estádio, era muito triste pensar que havia acabado, aquilo pelo qual eu havia esperado meses havia chegado ao fim. Sair do Morumbi, caminhar até o ônibus e apagar de cansaço foram feitos apenas pelo meu corpo, meu coração e minha mente ainda estavam no mesmo lugar, naquele palco, em frente ao Paul McCartney, durante o melhor show da minha vida.

(Para ver um vídeo de agradecimento ao Brasil e à Argentina, feito pela produção do Paul McCartney, em que aparece nossa homenagem com os balões brancos, clique aqui).


Lívia Magalhães